quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sou uma nômade


créditos da foto:  sítio Adventure Zone


Sim, nômade! Vou contar a história. Senta, vai ;)
Bom, mais uma vez vou mudar de cidade. Se você leu o meu perfil aí do lado, vai perceber que já morei em 04 estados deste nosso país: Minas Gerais, onde nasci, Espírito Santo, onde passei toda a minha adolescência, Bahia, onde me formei em Direito, e Pará, onde foi o pontapé inicial para minha carreira profissional. De lá pra cá, acabei voltando para o meu estado de origem, minha Minas Gerais, e, agora, novamente, para o Espírito Santo, meu estado do coração. Ufa!

Isso fo só um resumo para você começar a entender minha saga (???).  Na verdade, eu nunca contei minha história neste blog. Sempre comentei uma ou outra coisa, mas nunca detalhes. Eu nasci em um distrito que pertencia a uma cidadezinha localizada no norte/leste das Minas Gerais, chamada Águas Formosas, porém, não sei por que cargas d'água, meu pai me registrou como se eu tivesse nascido em Crisólita, cidade próxima àquela. Quando eu já contava com 06 anos, aproximadamente, meus pais se mudaram para uma cidade no Espírito Santo, chamada Pinheiros. Lá eu estudei até chegar à faculdade. Fui fazer Letras (6ª colocada no vestibular) na Universidade Federal do Espírito Santo - UFES (campus de São Mateus/ES) e, na metade do curso, por entender que era uma faculdade que não iria me trazer lucros (nossa, que mercenária! kkkk), decidi ingressar em outra faculdade, de Processamento de Dados, em Colatina/ES. Sem estudar, lá fui eu fazer, na esperança de que seria uma coisa muito boa para mim. Ledo engano. Fiz o vestibular e fiquei na 10ª colocação. Fui bem em tudo, mas minha nota em matemática fez com que o professor, no primeiro dia de aula, comentasse sobre a tal colocação... Ele disse assim: "- Gente, uma pessoa nesta sala ficou em 10º lugar neste vestibular, mas não sei se ele ou ela conseguirá chegar até o final, porque a nota em matemática foi muito ruim, e, pra sobreviver neste curso, vai ser preciso suar a camisa...e muito!" Eu gelei. O cara havia falado comigo! E era aula de matemática!! Realmente ele estava correto. Na mesma semana que eu entrei, eu saí. Sorte minha, pois foi justamente na semana de matrícula do 4º semestre da faculdade de Letras, aquela que tanto reneguei. Nunca voltei tão feliz!

No último semestre do curso, indignada com o sistema de ensino nas escolas e também com a desvalorização do profissional, eu fiz novamente o vestibular. Só que dessa vez para o curso de Direito. Eu nunca imaginei que um dia iria sentar numa cadeira de uma sala de um curso jurídico. Lá fui eu. Faculdade particular. Eca! Detestei. Havia saído de uma faculdade pública federal, poxa. Meu ritmo era outro, as pessoas com as quais eu convivi eram outras, e, se não bastasse isso, a mensalidade era cara. Sofri um ano, até que uma amiga me falou que a UESC, faculdade pública localizada entre os municípios de Ilhéus e Itabuna/Ba,  havia aberto processo seletivo de transferência para o curso de Direito e que ela conhecia um professor que dava curso preparatório de 01 mês para quem quisesse fazer a prova. Topei na hora, mesmo sabendo que teria que desembolsar uma grana preta para fazer o bendito curso, já que era bem caro. Só sei eu dava aula e guardei meu salário de 03 meses para pagar o curso. Meu pai se dispôs a pagar moradia, comida e transporte. Deixei a faculdade rolando, levei faltas (acho até que reprovaria), perdi provas... mas fui! Eram apenas 15 vagas disponíveis para o curso de Direito. E havia 265 pessoas concorrendo, se não me falha a memória. Não tranquei a faculdade naquele época porque eu perderia pontos na análise da documentação. 

Estudei 01 mês cravado. Fiz a prova. Meu professor, o do cursinho, se chamava Eduardo. Nunca mais tive notícias dele, mas lembro bem que ele gostava muito de mim, me achava esforçada etc. Inclusive, no dia da prova, ele me buscou em casa pra fazer a prova. Não, não, ele não tinha interesse em mim, apenas gostava do jeito como eu encarava os estudos. Eu determinei, precisava passar! Era passar ou...passar! Ele me dizia assim: "- Angelice, vamos chegar em cima de fazer a prova, porque é um tal conversê danado, todo mundo contando suas vantagens, que estudou isso, estudou aquilo...tudo para desestabilizar o concorrente". Realmente, fizemos isso. Quando cheguei, todo mundo já estava sentadinho na sala para fazer a prova. Fiz. Resultado: tirei o 1º lugar. Das 15 vagas, uma era minha. Nunca me sentí tão feliz em toda a minha vida. Eu estava em um conselho de classe na escola quando recebi a notícia. O Eduardo vibrava do outro lado da linha. Foi um momento emocionante. Meu primeiro dia de aula foi só para responder perguntas como: "- O que você fez pra passar?", "- Nossa, você é muito inteligente!" Todos ficaram admirados porque eram vagas visadas. Muitos diziam que só eram aprovados os que tinham "Q.I". Já sabem do que se trata, né?

Mas eu fui e venci. Foram anos difíceis longe da família. Estudei, sofri por amores impossíveis e possíveis, tive bons e maus professores. Quando voltei, foi cheia de dúvidas. Agora, enfrentar a OAB. A famosa prova da Ordem dos Advogados do Brasil dava medo! Quando retornei para casa, aqui no Espírito Santo, eu havia terminado um namoro. E parecia que tudo estava mal, mal mesmo. Sem querer amenizar a situação, colocar culpa em alguém, fui fazer a prova da Ordem totalmente desmotivada. Não sei, parecia que nada estava bom. Reprovei. Nossa, foi um desastre em minha vida. Senti-me a pessoa mais burra do mundo. E as cobranças chegam aos montes, de pais e irmãos. No afã de tentar um recurso e passar, fui pegar minha prova... Baque. Havia tantos erros de português, que vocês não fazem ideia. Eu chorei horrores com os comentários escritos pelos professores que corrigiram a prova. Como pode, uma pessoa formada em Letras, cujos professores elogiavam, diziam que tinha uma escrita fabulosa, ter sido reprovada por isso???? Nervosismo era nome da coisa...

Depois do baque, continuar a luta. Fui fazer o 2º Exame de Ordem. Passei na 1a. fase e, na prova escrita,  uma peça processual, eu obtive nota 9,0. Foram poucos, naquele ano. Havia lavado a alma. Por isso, meus caros, não rotulem as pessoas sem que antes chegue a contraprova. E outra: nervosismo, desmotivação, acabam com qualquer chance de vitória.

Passado o sufoco, carteira da Ordem na mão, fui para Belo Horizonte/MG tentar a sorte. Queria trabalhar em um escritório de advocacia e fazer um cursinho. Fiquei morando na casa de meus tios que estavam em Portugal. A filha deles havia ficado aqui no Brasil e eu então passei a morar lá para fazer-lhe companhia e procurar trabalho. Tudo em vão, não consegui emprego. Mas continuei tentando. Em um belo dia, quando estava em casa, um colega meu, dos tempos da faculdade, entrou em contato comigo e me disse que havia aberto um concurso no Judiciário. Logo me desmotivei, informando que não teria condições de competir com ninguém, já que não estava fazendo cursinho. Ele insistiu para que eu fizesse mesmo assim. Abriram as inscrições, me inscrevi, comprei uns livros e comecei a estudar, mesmo sozinha. Nesse meio tempo, meu pai vendeu tudo que tinha e foi morar no Pará. E como eu não queria morar lá de jeito nenhum, intensifiquei os estudos. Foram 04 meses de luta, sem dia santo de descanso. Não havia feriado, sábados e domingos. Tudo era útil. Não podia perder tempo. Era muita concorrência para eu ficar parada. 

Um belo dia minha prima me fala que um escritório de advocacia estava precisando de um advogado trabalhista. Corrí lá para tentar a vaga. O escritório não era grande. Aliás, escritório feio, sem glamour nenhum. Sentei-me de frente para o dono do escritório, um advogado que aparentava uns 45 anos, e ele começou a me sabatinar. Quando perguntada sobre o que eu estava fazendo atualmente, informei que estava estudando para o concurso tal. Ele olhou pra mim e perguntou qual cursinho eu estava fazendo. Eu disse que nenhum, que estava estudando sozinha. Ele me olhou assim de soslaio e soltou: "- Desista, você não passa." Eu perguntei: "- Por quê?" Ele continuou: "- Porque é um concurso difícil, inclusive, a esposa do desembargador tal está tentando esse concurso há tempos e até hoje não passou. E olha que ela estuda até quando a gente vai para o sítio deles. Ela se tranca para estudar e  faz cursinho também." Daí eu disse, sem pestanejar: "- Eu estou estudando com afinco, tenho disciplina, e tenho acima de tudo fé. Para Deus, nada é impossível." Ele então me humilha: "-É, quem sabe na hora da prova você vai marcar a alternativa errada e Deus puxa sua mão e te faz marcar a correta?" 

Depois desse comentário, não me pergunte como saí de lá. Voltei para casa chorando. Entrei no meu quarto e orei a Deus, suplicando por uma vitória.  

Fiz a prova. Fui classificada: 45ª colocação. Teria que esperar um tempo até ser nomeada. Então, meus pais me chamam para ir pra atual cidade deles, Jacundá/PA, porque "a fonte havia se esgotado".  Não pude escapar. Arrumei minhas malas e fui para o estado do Pará. Quando lá cheguei, não tive expectativa nenhuma de crescimento. Cidade estranha, povo estranho... Após aproximadamente 05 meses, surgiu a oportunidade de fazer um concurso para advogado de uma prefeitura. Desesperançosa, fiz. Saí da prova meio desconfiada, já que achei a prova muito fácil. Era apenas uma vaga. Quando saiu o resultado, meu nome estava lá, em 1º lugar. Mais um dia feliz! Muitas outras coisas aconteceram nesse meio tempo. Ajudei muito em casa.   

Após quase 03 anos, o Tribunal me nomeia como servidora. Deixei o Pará rumo a Minas Gerais. Agora não fazia mais parte do executivo. Agora estou no Judiciário. Sou federal, meu povo! rs O dia da minha vinda para o Sudeste foi um dos dias mais felizes da minha vida. Daí, depois de quase 03 anos lotada em Nanuque, cidade quase na Bahia, pedi remoção para Belo Horizonte. Fiquei apenas 01 mês trabalhando lá. Sai minha permuta para o Tribunal do Espírito Santo (uma espécie de transferência). Cá estou, em Vitória/ES. Mas não por muito tempo. Já estou novamente de mudança, agora para uma cidade chamada Linhares.

Desde ontem, quando soube da remoção para o interior daqui do Espírito Santo,  não tão longe da capital, graças a Deus, eu tenho estado ansiosa, preocupada com mudança, rescisão de contrato de aluguel, de internet... Mais um desafio me espera, mas, relembrando tudo que passei ao longo de minha existência, vejo que se trata apenas de mais uma cidade a desbravar!!!

De todas as situações já vivenciadas, essa é apenas mais uma para ser carimbada no meu passaporte de nômade e lutadora. Deus é o Senhor de meu destino, e, nos momentos em que penso que estou perdida, Ele se torna o meu cajado, a minha bússola. Vou na fé!

E olhe, falei tudo isso não para me exibir, dizer que sou f***. Até por que, o Brasil está cheio de gênios. Há pessoas com histórias muito mais interessantes que essa. Mas essa é a minha história. E tenho muito orgulho disso. Sou apenas mais uma na multidão. Isso foi uma forma de dizer que todo mundo pode tudo, basta crer e ter determinação. Nos últimos tempos tenho sido meio displicente com meus estudos, mas espero brevemente retomar o curso do rio...rs Força na peruca sempre!

Ah, e não se esqueça: "Os cães ladram e a caravana passa!"

Beijo,

Ange.

p.s.: não sei por quê, mas senti muita vontade de escrever sobre isso hoje. Espero que seja inspiração não só para vocês que me leem, mas também para essa minha alma inquieta. Ah, desconsiderem eventuais erros de português. Fiz com emoção, corrido, sem preocupação com isso ou aquilo ;)

6 comentários:

Fabiana Simone Torres Tardochi disse...

Oi Ange!
Muito obrigada pelo carinho pelo meu aniversário.
Fiquei muito feliz:)
Bjs ♥

ZINA, . disse...

Minha amiga querida, você é PHODA!!!!!!!!!!!è isso mesmo,história linda, de luta de coragem, de vitòria, e acima de tudo, de fé. Fé em Deus sempre Ange, haja o que houver, pessoas como você sempre serão vencedoras, Te desejo muita sorte na nova empreitada,sabemos que mudanças são algumas vezes dolorosas, outras renovadoras, e como vc já é TARIMBADA nisso,(eu tambem. rsrsrs) sei que tudo vai dar certo.
mandando pra você um beijo e um xero, com muitas vibrações positivas.

Força na peruca sempre!!!

Elaine Freitas disse...

Oiii garotinha...

tenho selinho pra você lá no meu blog...
Bjs

Carol Magro disse...

Nossa, parabéns, Meu Deus..vc passa em todos os concuros, como eu queria ser esforçada assim!!
Parabéns, mesmo!!
um grande beijo!

Unknown disse...

Sou um pouco nômade tb. Já "morei" no homem que inspirou minha criação, já habitei e ainda habito a mente da Marinha, e dia desses a cabeçona do ilustrador que me deu face.
Minha ilustração já está no blog da Construtora de Palavras. Se quiser me conhecer, passa lá.
Bjinho :)

Ange Rocha S. Abramov disse...

- Genteee, obrigada pelo carinhoo! Força na peruca sempre! hehehe!

Beijos em todos :)