segunda-feira, 7 de março de 2016

Minha herança

Olá.

Estou agora no quarto do lado - vulgo: de visita -, sentada à mesa, lendo, estudando um pouco e, agora, ouvindo umas canções.

Os dias têm passado numa vagareza que me incomoda um pouco. Faz alguns dias que estou em casa, mas parece uma eternidade! Sei que esses dias são necessários para meu restabelecimento, seja físico ou psicológico, todavia, quando cai o anoitecer, ainda sinto tristeza. Ela vem devagar, mas vem. O coração aperta, a saudade aumenta, a dor se instala. Tão difícil!

Semana passada a minha chefe até mandou uma mensagem bonitinha para mim, na qual dizia que eu deveria aproveitar esse tempo  e passear um pouco, distrair. Vou tentar fazer isso esta semana. Espero que  a dor se vá e dê lugar apenas a saudade. Sei que ela sempre existirá. Aliás, eu a quero para sempre, porque significa  que não esquecerei do meu filho que se foi. Nunca o esquecerei.

Mas a vida segue. Hoje até comentei com uma colega de trabalho que se não fosse a presença de Deus em nossas vidas, acho que teríamos (Evandro eu) pirado, porque tudo nos remete ao passado.

Quando descobri que estava grávida, as mudanças começaram a ocorrer aqui em casa. Mudamos a logística de quase tudo. Foi um processo que tinha tudo para continuar acontecendo, mas inesperadamente foi interrompido.

Tínhamos um refrigerador dos anos em que eu ainda era solteira. Com o tempo, ele começou a ficar pequeno demais para nós. A gravidez foi o estímulo que precisávamos para trocá-lo. Compramos um bem maior, vez que agora eu precisava de mais espaço para minhas frutas e legumes. Meu filho precisava se alimentar melhor, com variedades maiores. Hoje quando olho para o refrigerador me dá um pouco de tristeza. Sei lá, pareço maluca, mas é isso mesmo que tem acontecido comigo. Ainda não caiu a ficha. Volta e meia eu lembro, penso e choro. Deem um desconto, vez que tudo é muito recente.

Mudo de assunto, sorrio, brinco, mas o coração ainda está despedaçado. O ciclo parece não fechar!

Evandro me disse outro dia que acredita que a superação virá apenas quando tivermos outro filho. Sim, e se não vier? Rogo a Deus que venha. Quero que venha, mas diante de tantos planos que fizemos com nosso amado filho que não nasceu, eu prefiro não fazer planos. Deus conhece nossos corações, sabe de nossos desejos, logo, deixo para Ele a decisão de nossas vidas.

Quando descobrimos minha gravidez, ficamos extremamente felizes e fizemos projetos que não se concretizaram.

Hoje aprendi que não quero mais falar do futuro. Vivo o presente. Deixo as coisas acontecerem. Não envelheci apenas 10 anos; amadureci 10 anos. Quero valorizar as pessoas agora. Quero viver em harmonia com todos. Sei que é difícil, diante das diferenças que a vida nos impõe, mas não quero saber se o outro erra, se o outro peca. Quero saber da comunhão que tenho que ter com Deus. As pessoas erram. Quem sou eu para julgá-las?

Hoje meu direcionamento está pautado no Salmo 37,4: "Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os desejos de seu coração".

Todos os dias tenho pedido a Deus para frear os meus lábios e endireitar os meus pensamentos. Quero viver algo novo, extraordinário. Não quero mais tomar decisões sem que Deus seja consultado. Como já fiz isso!

Sei o quanto é difícil ter um coração manso diante de tantas adversidades que nos são apresentadas diariamente, mas precisamos nos manter firmes, com o coração voltado para o alto. Sei que errarei inúmeras vezes ao longo da vida, mas sei que Deus vai sempre me levantar, porque nEle tenho confiado minha vida.

Todos os dias eu peço a Deus para sondar meu coração, e nele tirar os pensamentos maus. Vejo tantas tragédias nos jornais, sabe? Por que as pessoas não tentam viver em paz? Eu quero viver em paz. Já passei muito tempo da minha vida sendo briguenta. Chega!

A perda do meu filho me deixou várias lições, entre elas, a de que preciso sempre colocar Deus no direcionamento da minha vida e da do Evandro.

Apesar da dor, sinto-me feliz por saber que voltei ao primeiro amor. Andava distante, mas Deus me resgatou. E que eu nunca mais me esqueça disso. As lutas são e serão muitas, mas se eu estiver com Jesus, sei que vencerei todas elas. Isso alegra meu coração.

É isso.

Até.

Ange.





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