sábado, 29 de junho de 2013

Por quem os sinos dobram?

"No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were; any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee"
(John Donne, in: Meditation 17)



Neste fim de semana uma criança foi brutalmente assassinada.

Aos poucos tomei conhecimento sobre o assunto e pensei, pensei... Cheguei a uma única conclusão: o que acontece com quem está ao nosso redor também nos acontece. Como assim? Porque não somos uma ilha, como bem escreveu o poeta John Donne. Aliás, nunca li algo tão verdadeiro. Quando vi a foto do menino Bryan  (entenda aqui e aqui), o único texto que me veio à mente foi esse do escritor inglês. Quanta verdade nessa metáfora!

As várias reportagens sobre o assassinato brutal dessa criança boliviana também me trouxeram várias sensações de impotência, inércia, comodismo e individualismo. Como somos alheios aos acontecimentos que julgamos desimportantes! Mas será mesmo? Será que a morte de um ser humano também não é a nossa morte? Somos imagem e semelhança de Deus, assim diz a Bíblia em Gênesis 1:26. Se assim o é, por que somos todos tão individualistas e despreocupados com o outro?

São muitas perguntas sem respostas, porque vivemos em um mundo onde prevalece o "cada um por si e Deus por todos". E isso ainda me choca, por mais que eu viva em um mundo onde o individualismo está em franca ascensão. Não, não, já se ascendeu faz tempo! Mas eu não quero isso, não posso querer isso! Não dá pra ter um comportamento tão mesquinho diante dos problemas que tanto afligem a humanidade. Fim dos tempos. Talvez, mas enquanto podemos lutar por um mundo mais digno e humano, acho que devemos continuar tentando.

Quando vejo uma criança - ou qualquer pessoa, claro - sendo maltratada, assassinada, eu percebo o quanto  somos passivos e inertes em não cobrar do Estado um posicionamento correto e rápido. Hoje percebo que as muitas manifestações que ocorreram Brasil afora foram, de certo ponto, válidas - faço aqui minha mea culpa, porque confesso que não botava muita fé naquele povo todo nas ruas -, mas logo penso: o fervor vai continuar? E nas próximas eleições, o povo vai mostrar realmente sua cara nas urnas, vai mostrar quem é que manda nessa merda de país???

Somos os cachorros abandonados no canil da vida. Não é nada poético o que eu disse, eu sei, mas é real, é assim que me sinto. Estamos à deriva, morando em um país que não nos dá segurança, saúde decente e educação. A população anda refém da bandidagem, da inflação, da avalanche de impostos! Será que realmente o gigante acordou? Será que a luta vai continuar? Vamos fazer dessas interrogações um ponto final?

Vejo que cansei. Recuo. Choro. Ontem eu fiz isso. Chorei pelo menino Bryan. Ele poderia ser meu filho. Poderia ser o seu também. Uma criança. Um inocente. Morreu em país estranho enquanto os pais lutavam por uma vida melhor que aquela que tinham no país de origem. Isso é viver? Bolivianos são trazidos para o Brasil como escravos das confecções de roupas populares. Esse é o mundo em que vivemos. Eles são humanos. Nós também?

Pensamento pueril? Talvez. Mas tudo isso que falei é apenas a ponta do iceberg...

E os sinos dobram por mim, por ti, por nós. A morte de qualquer ser humano também nos atinge. Fazemos parte desse mundo. Não estamos em fila indiana. Estamos de mãos dadas. Pensem nisso.

Fiquem em paz.

Ange.

p.s.: Segue abaixo a tradução do texto acima:

"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."


Foto da mãe  e da criança boliviana assassinada brutalmente 
em um assalto em São Paulo - Brasil
foto: reprodução



Um comentário:

Pauline disse...

Que horror guria, ainda não tinha lido sobre o assunto. É incrível o quanto uma maldade destas nos afeta não é?

:(